quarta-feira, 22 de julho de 2015

Sofia

Raquel Pedroso Souza

A menina-mulher que sempre quis ser

I.            Rebeldia
Uma mulher com rosto de menina, com seus olhos verdes, chama atenção de qualquer um que a veja. Sem aparentar quem ela realmente era, sempre se mostra ser uma bela surpresa. Com cílios enormes, o delineador contornando os olhos. O cabelo solto, fazendo aquele estilo desarrumado. Uma calça jeans e uma camiseta branca estampada com uma banda qualquer. Ela não era uma mulher qualquer, não era qualquer camiseta de banda de rock, não era qualquer jeans. E sim, a rebeldia que ela respirava.
Rebeldia sem padrões. Sempre sendo ao contrário de tudo. Sendo uma transgressão. Transgredindo as leis. Sem limites. Entre drogas, com um cigarro na mão, filosofa sobre a revolução. Tatuagens à mostra, um crucifixo pendurado no peito. Inocência e transgressão no mesmo corpo. Crescida entre amor e ódio. Amada por uns e abandonada por outros.
Eis que de repente seus olhos brilham...

II.            Revolução
Inicia a sua revolução, deixando de filosofar. Sendo amada por todos, ela incita a rebeldia. Luta contra os valores de uma sociedade corrompida. Se impõe contra os que lhe impõe a lei. Quebra todas as regras. Surge ela imponente em meio à multidão para liderar a sua própria revolução. Bradando palavras de ordem, Sofia é imponente aos demais. Crê que a sua ideologia é a mais importante e convida aos demais para a defenderem ao seu lado.

III.            Liberdade
Deusa da liberdade.
Liberdade que não é liberdade.
Controlada, vigiada, perseguida por todos.
Sobrevivendo a tudo.

IV.            Contra a conspiração
Don’t call me by name!
Don’t call me!
Ela estava lá, sentada, ferrada, acabada tentando entender. Que porcaria de conspiração era aquela? Quem foi que armou aquilo? Desde quando ela foi condescendente? Traída pelos seus. Espera a revolução acabar.
Ira e revolta andavam juntos naquele pequeno e louco pensamento. Grosseira e hostil, será até eles caírem. Esqueceram quem ela sempre foi. Sentimentos traídos, ideias roubadas. Mas o caráter sem ser corrompido. Eles realmente não conheciam a sua anarquia. Não sabiam o quão rude ela pode ser. Quão má pode ser. Quão vingativa pode ser.
“Arrependei-vos enquanto há tempo”
Porque a sua ira se revoltou. Finalmente a sua rebeldia voltou-se ao princípio.
Todos cairão.
Call me by name
Call me
Call me by the name of death
Call me by the name of Sofia 
Perdida e sem chão, ela olha o horizonte e decide se levantar novamente, assumir tudo que sempre foi dela.

V.            Decisão
Ser ou não ser? Eis a questão.
Vencer ou perder? Qual lado?
Certo ou errado? Quem seguir?
Rebeldia ou submissão? Qual a sua decisão?
Motivada a não baixar a cabeça para pessoas que pensam ser superiores.  Ergue-se e retoma a sua revolução. Seguida por uma multidão, Sofia se vê maior de antes de ter caído. Seguidores bradam a sua ideologia pelas ruas.

VI.            A sua ideologia
Puseram a sua ideologia à prova, como se ela fosse uma qualquer.
Rebelde, sim! Insolente, sim, mas não no seu real sentido.
Soberana sobre os outros, a inteligência é o seu maior trunfo.
Não há força que a vença. Não há razão que não seja a sua.
A dona da verdade, sempre estando com a razão.
A sua ideologia, a sua rebeldia. Compararam-na com reles miseráveis, que com força e violência, se dizem rebeldes. Atacam as pessoas fisicamente, meros marginais. Nunca fizeste apologia à violência, jamais dissera que a força bruta prevalecia. Quanta ignorância compará-la. Insultando a sua inteligência. Renova os seus conceitos e afasta os traidores. Pessoas que se diziam companheiros, mas que no fundo queriam ser iguais a ela. Jamais confiará tão piamente nas pessoas de novo. Usa o poder das palavras como arma, age racionalmente.
Ideologia de lutar com palavras.

VII.            Seus amores
Ela é uma guerra, incompreensível, insaciável.
Ela é uma incerteza.
Entre o amor e o ódio.
Entre apegos e desapegos.
A infelicidade do amor, destruidora de sentimentos. Ela parte corações, ela domina suas paixões. Ela os devora. Todos caem aos seus pés, imploram por algum sentimento. Desejam seu o seu alento, querem o seu desapego. Jamais se rendeu aos seus sentimentos, incapaz de amar. Jamais pediu por um amor. Sem fronteiras, sem sentimentos.
Realmente tornou-se inalcançável. Prazeres concedidos, amores corrompidos. Por que pedem mais do que ela pode oferecer? Por que amar significa sofrer? Amores vêm e vão. Adora ser masoquista. O seu celibato a faz feliz. Pratica o seu masoquismo.

VIII.            Esquecimento
Abandonou a sua luta.
Desistiu da batalha.
Caiu na triste vida da rotina.
Cresceu, e se vê no mundo onde os adultos trabalham e constroem uma vida social. Cedeu à tentação de uma sociedade caída. Abandonou a sua revolução, largou o cigarro, não tem mais vício em drogas, mudou completamente, nem o seu piano, querido piano, não toca mais. Deixou-se levar pela vida que tanto lutou. Comprou casa, comprou carro, largou os jeans e as camisetas rasgadas por um terninho de uma empresa multinacional. Acomodou-se. Perdeu-se.

IX.            Ressurgindo
Abandonou tudo o que a cercava, fazendo-se só.
Perdida entre pensamentos e sentimentos.
Ressurge em meio à confusão.
Pode tirar tudo dela, mas, nada se pode esperar.
Esquecida no fundo escuro, à espera que a vitalidade ressurja.
Depois de negar a vida e os amigos, caiu na obscura rotina. Se desfez de tudo que cultuou, se recoloca em meio à sua vida. Clama com desespero o abandono da rotina. Não consegue se desacomodar. Vida simples, sem alegria, sem ânimo para viver.
Ressurgindo em meio ao caos. Quanta alegria, Sofia! Se refaz, se reabitua. Toma para si o seu lugar. Se possui, e reinventa a sua ideologia. Revoltando e revoltada, ressurge ela, em meio ao abandono e ao esquecimento. Prepara-se para reviver o que jamais ela própria viveu.
Ideologia de vida
Rebeldia, a base de tudo
Reavendo o seu fôlego de vida
Ela inicia o seu retorno

Breve triunfo virá

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