Raquel Pedroso Souza
A menina-mulher que sempre quis ser
I.
Rebeldia
Uma
mulher com rosto de menina, com seus olhos verdes, chama atenção de qualquer um
que a veja. Sem aparentar quem ela realmente era, sempre se mostra ser uma bela
surpresa. Com cílios enormes, o delineador contornando os olhos. O cabelo
solto, fazendo aquele estilo desarrumado. Uma calça jeans e uma camiseta branca
estampada com uma banda qualquer. Ela não era uma mulher qualquer, não era
qualquer camiseta de banda de rock, não era qualquer jeans. E sim, a rebeldia
que ela respirava.
Rebeldia
sem padrões. Sempre sendo ao contrário de tudo. Sendo uma transgressão.
Transgredindo as leis. Sem limites. Entre drogas, com um cigarro na mão, filosofa
sobre a revolução. Tatuagens à mostra, um crucifixo pendurado no peito.
Inocência e transgressão no mesmo corpo. Crescida entre amor e ódio. Amada por
uns e abandonada por outros.
Eis
que de repente seus olhos brilham...
II.
Revolução
Inicia a sua
revolução, deixando de filosofar. Sendo amada por todos, ela incita a rebeldia.
Luta contra os valores de uma sociedade corrompida. Se impõe contra os que lhe
impõe a lei. Quebra todas as regras. Surge ela imponente em meio à multidão
para liderar a sua própria revolução. Bradando palavras de ordem, Sofia é
imponente aos demais. Crê que a sua ideologia é a mais importante e convida aos
demais para a defenderem ao seu lado.
III.
Liberdade
Deusa da liberdade.
Liberdade que não é liberdade.
Controlada, vigiada, perseguida por todos.
Sobrevivendo a tudo.
IV.
Contra a conspiração
Don’t call me by name!
Don’t call me!
Ela
estava lá, sentada, ferrada, acabada tentando entender. Que porcaria de
conspiração era aquela? Quem foi que armou aquilo? Desde quando ela foi
condescendente? Traída pelos seus. Espera a revolução acabar.
Ira e
revolta andavam juntos naquele pequeno e louco pensamento. Grosseira e hostil,
será até eles caírem. Esqueceram quem ela sempre foi. Sentimentos traídos,
ideias roubadas. Mas o caráter sem ser corrompido. Eles realmente não conheciam
a sua anarquia. Não sabiam o quão rude ela pode ser. Quão má pode ser. Quão
vingativa pode ser.
“Arrependei-vos enquanto há tempo”
Porque
a sua ira se revoltou. Finalmente a sua rebeldia voltou-se ao princípio.
Todos cairão.
Call me by name
Call me
Call me by the name of
death
Call me by the name of
Sofia
Perdida
e sem chão, ela olha o horizonte e decide se levantar novamente, assumir tudo
que sempre foi dela.
V.
Decisão
Ser ou não ser? Eis a questão.
Vencer ou perder? Qual lado?
Certo ou errado? Quem seguir?
Rebeldia ou submissão? Qual a sua decisão?
Motivada a
não baixar a cabeça para pessoas que pensam ser superiores. Ergue-se e
retoma a sua revolução. Seguida por uma multidão, Sofia se vê maior de antes de
ter caído. Seguidores bradam a sua ideologia pelas ruas.
VI.
A sua ideologia
Puseram a sua ideologia à prova, como se ela
fosse uma qualquer.
Rebelde, sim! Insolente, sim, mas não no seu real
sentido.
Soberana sobre os outros, a inteligência é o seu
maior trunfo.
Não há força que a vença. Não há razão que não seja
a sua.
A dona da verdade, sempre estando com a razão.
A sua
ideologia, a sua rebeldia. Compararam-na com reles miseráveis, que com força e
violência, se dizem rebeldes. Atacam as pessoas fisicamente, meros marginais.
Nunca fizeste apologia à violência, jamais dissera que a força bruta
prevalecia. Quanta ignorância compará-la. Insultando a sua inteligência. Renova
os seus conceitos e afasta os traidores. Pessoas que se diziam companheiros,
mas que no fundo queriam ser iguais a ela. Jamais confiará tão piamente nas
pessoas de novo. Usa o poder das palavras como arma, age racionalmente.
Ideologia
de lutar com palavras.
VII.
Seus amores
Ela é uma guerra, incompreensível, insaciável.
Ela é uma incerteza.
Entre o amor e o ódio.
Entre apegos e desapegos.
A
infelicidade do amor, destruidora de sentimentos. Ela parte corações, ela
domina suas paixões. Ela os devora. Todos caem aos seus pés, imploram por algum
sentimento. Desejam seu o seu alento, querem o seu desapego. Jamais se rendeu
aos seus sentimentos, incapaz de amar. Jamais pediu por um amor. Sem
fronteiras, sem sentimentos.
Realmente
tornou-se inalcançável. Prazeres concedidos, amores corrompidos. Por que pedem
mais do que ela pode oferecer? Por que amar significa sofrer? Amores vêm e vão.
Adora ser masoquista. O seu celibato a faz feliz. Pratica o seu masoquismo.
VIII.
Esquecimento
Abandonou a sua luta.
Desistiu da batalha.
Caiu na triste vida da rotina.
Cresceu,
e se vê no mundo onde os adultos trabalham e constroem uma vida social. Cedeu à tentação de uma
sociedade caída. Abandonou a sua revolução, largou o cigarro, não tem mais
vício em drogas, mudou completamente, nem o seu piano, querido piano, não toca
mais. Deixou-se levar pela vida que tanto lutou. Comprou casa, comprou carro, largou
os jeans e as camisetas rasgadas por um terninho de uma empresa multinacional.
Acomodou-se. Perdeu-se.
IX.
Ressurgindo
Abandonou tudo o que a cercava, fazendo-se só.
Perdida entre pensamentos e sentimentos.
Ressurge em meio à confusão.
Pode tirar tudo dela, mas, nada se pode esperar.
Esquecida no fundo escuro, à espera que a
vitalidade ressurja.
Depois
de negar a vida e os amigos, caiu na obscura rotina. Se desfez de tudo que
cultuou, se recoloca em meio à sua vida. Clama com desespero o abandono da
rotina. Não consegue se desacomodar. Vida simples, sem alegria, sem ânimo para
viver.
Ressurgindo
em meio ao caos. Quanta alegria, Sofia! Se refaz, se reabitua. Toma para si o
seu lugar. Se possui, e reinventa a sua ideologia. Revoltando e revoltada,
ressurge ela, em meio ao abandono e ao esquecimento. Prepara-se para reviver o
que jamais ela própria viveu.
Ideologia de vida
Rebeldia, a base de tudo
Reavendo o seu fôlego de vida
Ela inicia o seu retorno
Breve triunfo virá
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