quarta-feira, 22 de julho de 2015

André Brasileiro

Paola Brocardo Guimarães
André Nascimento, 17 anos, pobre, sem pai nem mãe, criado pela vó desde que nasceu. Cresceu em uma comunidade bem comum para seu perfil, a periferia. Divide o Teto com mais dois netos de Maria, sua vó, que tem mais dois filhos. Maria é doméstica. Trabalha na região nobre da cidade de São Paulo, na casa de uma família tradicional. Dá duro para sustentar a família com seu salário e auxílios do governo. O Marido ela visita semanalmente no presídio.
Mesmo lugar que o pai de André, só que esse sem visitas. A mãe de André morreu logo após dar a luz. Foi vítima de um estupro na noite que voltava da escola. Tinha apenas 15 anos.
A vida não andava fácil para André. A escola ele nem frequentava mais, ouviu dizer nos becos que era coisa de burguês. Sem nem ao menos o fundamental completo e seu perfil peculiar e duvidoso, atraía os olhares mais hostis, o que o deixava chateado e bem violento.
Mas André também tinha um coração. E nele morava Eduarda, sua tia de apenas 10 anos. De cabelo enroladinho, olhos grandes e intimidador, e dona de uma doçura encantadora que era impossível não adorar. Gostava de tomar sol na varanda principalmente quando a chuva adentrava a sua casa nas noites mais severas. Gostava do silêncio ainda mais quando se ouvia tiros bem pertinho da janela do seu quarto. Gostavam de balet, bonecas e de piano. Assistiu alguma vez um filme no qual o protagonista poderia salvar a vida da sua família se tocasse piano como nunca. Ela tentou explicar a André a história, mas sem prender muito a atenção do sobrinho.
Queria se sentir gente. Mas precisava de dinheiro e isso ele também não tinha. 

André queria sair fazer festa, comprar roupas legais que todo mundo usava. Queria se sentir gente. Mas precisava de dinheiro e isso ele também não tinha. Assim como emprego e estudo, o que dificultou bastante. Até tentou arrumar trabalho. Mas depois de tanto ‘não’ com olhar de indiferença, decidiu que ia se virar.
Começou a roubar. André roubava mini mercados, lancherias, botecos, roubava carteira na praça e bolsas no centro. Começou a ganhar dinheiro e a usar drogas. Se foi o dinheiro todo em cocaína e maconha e os roubos já não davam conta. Começou a investir em roubos maiores, dinheiro alto. Bancos, relojoarias, lojas.

Foi numa dessas que uma loja tinha exposta na vitrine um piano. Bem como Eduarda descrevia, e ele via tão longe da realidade deles. Distraído pelo encanto e lembranças, foi morto a tiros pela polícia, bem em frente à vitrine. Olhando para o piano e pensando que aquilo poderia salvar a vida de Eduarda, porque a dele nessa guerra de classes já foi perdida.

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