Paola Brocardo Guimarães
André
Nascimento, 17 anos, pobre, sem pai nem mãe, criado pela vó desde que nasceu.
Cresceu em uma comunidade bem comum para seu perfil, a periferia. Divide o Teto
com mais dois netos de Maria, sua vó, que tem mais dois filhos. Maria é
doméstica. Trabalha na região nobre da cidade de São Paulo, na casa de uma
família tradicional. Dá duro para sustentar a família com seu salário e
auxílios do governo. O Marido ela visita semanalmente no presídio.
Mesmo lugar
que o pai de André, só que esse sem visitas. A mãe de André morreu logo após
dar a luz. Foi vítima de um estupro na noite que voltava da escola. Tinha
apenas 15 anos.
A vida não
andava fácil para André. A escola ele nem frequentava mais, ouviu dizer nos
becos que era coisa de burguês. Sem nem ao menos o fundamental completo e seu
perfil peculiar e duvidoso, atraía os olhares mais hostis, o que o deixava
chateado e bem violento.
Mas André
também tinha um coração. E nele morava Eduarda, sua tia de apenas 10 anos. De
cabelo enroladinho, olhos grandes e intimidador, e dona de uma doçura
encantadora que era impossível não adorar. Gostava de tomar sol na varanda
principalmente quando a chuva adentrava a sua casa nas noites mais severas. Gostava
do silêncio ainda mais quando se ouvia tiros bem pertinho da janela do seu
quarto. Gostavam de balet, bonecas e de piano. Assistiu alguma vez um filme no
qual o protagonista poderia salvar a vida da sua família se tocasse piano como
nunca. Ela tentou explicar a André a história, mas sem prender muito a atenção
do sobrinho.
Queria se sentir gente. Mas precisava de dinheiro e isso ele também não tinha.
André
queria sair fazer festa, comprar roupas legais que todo mundo usava. Queria se
sentir gente. Mas precisava de dinheiro e isso ele também não tinha. Assim como
emprego e estudo, o que dificultou bastante. Até tentou arrumar trabalho. Mas
depois de tanto ‘não’ com olhar de indiferença, decidiu que ia se virar.
Começou
a roubar. André roubava mini mercados, lancherias, botecos, roubava carteira na
praça e bolsas no centro. Começou a ganhar dinheiro e a usar drogas. Se foi o
dinheiro todo em cocaína e maconha e os roubos já não davam conta. Começou a
investir em roubos maiores, dinheiro alto. Bancos, relojoarias, lojas.
Foi
numa dessas que uma loja tinha exposta na vitrine um piano. Bem como Eduarda
descrevia, e ele via tão longe da realidade deles. Distraído pelo encanto e
lembranças, foi morto a tiros pela polícia, bem em frente à vitrine. Olhando
para o piano e pensando que aquilo poderia salvar a vida de Eduarda, porque a
dele nessa guerra de classes já foi perdida.
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