quarta-feira, 22 de julho de 2015

Hotel

Bruno Gonçalves de Souza
Você é do tipo alto e bronzeado, andando pela cidade, com seu peito estufado e roupas estilosas. Flertando com as garotas, como se você fosse lindo demais. Eu fiquei tipo “oh sim, ele é bonito, mas será que sabe cantar?”.
Nos primeiros 15 minutos a beleza chama atenção, depois é preciso conquistar com as palavras. É preciso conteúdo. Você tinha. Caminhando com um sorvete na mão. Conversando sobre assuntos adultos, agindo como adolescentes. Era bom conversar por horas e sentir que haviam passados minutos.
Na livraria, você havia me dito que gostava dos clássicos infantis, pois gostava de ler sobre pessoas corajosas e um mundo inocente, diferente do que vivia. Falava de um jeito manso, com uma voz rouca. Ar de inteligência, um cavalheiro.
Nenhuma palavra dita, tudo subentendido. 
Lembro-me de você no Hotel. Falando com tanta coragem e tão docemente. Olhares fixados, respiração ofegante. Nenhuma palavra dita, tudo subentendido. Você era famoso, seu coração era uma lenda.
É engraçado como a vida nos dá algo com uma mão, e nos tira com a outra. Lá na costa leste,  onde te conheci, eles tinham um ditado, “se você não está bebendo, você não está no jogo”. Mas você tinha a música dentro de você, não tinha? Enquanto tocava piano e cantava sobre paixões não correspondidas e amores imperfeitos.
Estava ficando difícil mostrar, me sentia mais sensível e vulnerável a cada toque. Você dizia que sentia minha falta. Dizia estar apaixonado, mas não só por mim. “Como isso é possível?”, me perguntava, enquanto me mantinha afastado.
Então você se foi. Deu as costas e simplesmente foi. Meus sonhos americanos se tornaram reais, de alguma forma. Eu jurei que os perseguiria até estar morto. Minha vida havia ficado doce como canela. Como a porra de um sonho em que estava vivendo.
Ah querido, estava apaixonado. Mas não podia consertá-lo, não podia fazê-lo melhor. E não podia fazer nada sobre aquele clima estranho. Porque ele era inconsertável. Não podia entrar em seu mundo, porque ele vivia em tons frios. Seu coração era inquebrável.
Andava pelas ruas da cidade, seria por engano ou havia planejado? Me sentia tão sozinho em uma sexta à noite. Você poderia fazer eu me sentir em casa, se quisesse. Eu só não queria que me deixasse triste. Que não me fizesse chorar.

“Às vezes o amor não é o bastante, e a estrada fica difícil, não sei por quê”, você cantarolava no piano. Eu só queria que continuasse me fazendo rir. Chapados, a estrada seria longa. Só queria tentar nos divertir naquele meio tempo.

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